sábado, 20 de julho de 2013

O VALOR DAS ÁGUAS EXPELIDAS

Ela umedecia a cama quando criança, isso prolongou-se até os seus doze anos de idade. Envergonhava-se muito disso, ainda mais que sua família zombava-a bastante. Quando acontecia o fato, fazia de tudo para camuflá-lo, escondiam as roupas molhadas, lavava as quando encontrava-se sozinha em sua casa, porém nem todas as vezes conseguia êxito. 

Durante atividades quaisquer tinha que fazer interrupções para dar vazão ao líquido perturbador, ocorria inúmeras situações embaraçosas, tais como, na celebração do aniversário de um colega de sala de aula quando ingeriu refrigerantes em demasia, e durante o trajeto de volta à casa molhou-se dentro do ônibus. Coberta de tamanha vergonha, fez furinhos para os olhos num saquinho plástico para compras e vestiu-o, ao descer do ônibus correu mais do que pensava poder até a sua morada. 

Após esse acontecimento tornou-se reclusa, não se sociabilizando com quem quer que fosse. Certa vez, de novo em sala de aula, houve uma encenação cômica, e ela divertiu-se muito, estava completamente relaxada, porém quando levantou-se a água turva escorreu do assento ao chão; os colegas foram aos céus com mais motivo para grandes gargalhadas, agora acompanhadas de zombarias direcionadas à pobre adolescente.

Passados anos, e não ocorrendo mais a sua incapacidade para a contenção de líquido, tinha vida normal. Isso até o dia em que estava sob grandes ânimos com uma companhia. Desde há muito, recusava-se ao contato, sobretudo aos mais ardorosos, no entanto, nessa ocasião, em que estava sobre o corpo de seu flerte, ela se descontraiu sob os efeitos das carícias e os músculos uretrais não foram resistentes o bastante para que não molhasse as vestes de ambos e do sofá que se cumpliciava, mesmo sem dar consentimento.

A ambiência tornou se constrangedora, pegou seus pertences, saiu correndo sem balbuciar uma palavra sequer, nunca mais reviu a sua companhia, a despeito de intensas e prolongadas tentativas da abandonada. 

Após esse evento tornou-se deveras antissocial; aos 22 anos de idade era virginal e pudica, não saía nem com os colegas de trabalho; quando a incontinência aquosa reapareceu. Ele era magra o bastante para que o seu físico não despertasse o interesse de outrem, não obstante a face harmoniosa e bela.

Por sua incapacidade de controle, houve por bem usar fraldas jovens – estava longe da terceira idade para utilizá-las com outro adjetivo – e teve que recompor grande parte de seu vestuário. Aquela moça esquálida tornou-se um mulherão com quadris para mais de metro; quando a ala masculina acordou para aquela bonita face e curvilíneas e largas partes inferiores.

O assédio tornou-se de tal monta que atingiu o seu humor, considerava os homens com os mais vis atributos, visto que percebeu a razão da transformação dos que cruzavam a sua trajetória. Porém, aconteceu de apaixonar-se por um desses; antevendo o fiasco, abriu-lhe o verbo, o assombro afugentou-o.

O desinteressante é que até as coisas pensadas desimportantes não são tanto quanto se espera; conhecer até a nossas secreções e excreções tem valia para o convívio social, sobretudo o contemporâneo que prima pela habitação e aglomeração urbanas.                                        12/07/2013

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