domingo, 27 de setembro de 2015

CALÇA PRETA

          De tanto observar aquelas bandas serem demarcadas pela suspensão da preta calça de lycra, com um furinho que mostrava a cor da pele mais esbranqueada que em outros visíveis locais. Para finalizar o alçar da veste ela bamboleava os quadris para os lados. Aquilo era de acelerar a corrente sanguínea e de intumescer músculos.

            Após exaustivas mas sempre vigiadas manobras, sem pretexto algum ele a convidou para apreciar um chá chileno que comprara em uma de suas frequentes excursões pela América Latina.

            Não tinha esperança muita pelo aceite; mesmo assim o fizera. Então, a sua resposta o surpreendeu para mais.

            A despeito da sua nutrição imaterial do alimento inacessível, olhava-a quase como se fosse, porém, manteve a civilidade no nível que lhe competia.

            Durante o degustar da essência, um e outro entreolharam-se, espreitando, antevendo os possíveis desdobrares daquela.

            Ela viu um livro que lhe interessou, estava na estante atrás e acima da cabeça dele, seu colo quase tocou milimetricamente a face dele ao esticar-se para apanhá-lo.

            Ele abortou o olhar e devaneou, suspirou, beijou-a levemente naquele local quando ela retornava o corpo ao assento.

            Ela enlanguesceu-se. Aproximou-se dela, os contatos abrutalharam-se, acompanhados de sons inerentes à ocasião.

           A ardência e a rusticidade dos corpos era grande, deveras grande, propícias para ocasiões bélicas, não para cerimônias românticas.

           Existiriam montanhas, por mais altaneiras que fossem, inacessíveis às aspirações humanas?                                                                                              20/08/2015