quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

ASSEMBLEIA ESTUDANTIL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (UFPR)

Ideias entendidas,ou supostamente entendidas, na assembleia dos alunos da universidade, no dia 06 de dezembro de 2016. A suposição deve-se ao fato de que os nossos estudantes adolescentes estão dentre os últimos nos itens avaliados pelo Programa Internacional de Alunos (PISA) inclusive leitura, o que deve, por consequência, refletir nos níveis de conhecimentos dos universitários brasileiros. Ver http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/12/03/pisa-desempenho-do-brasil-piora-em-leitura-e-empaca-em-ciencias.htm e http://g1.globo.com/educacao/noticia/brasil-cai-em-ranking-mundial-de-educacao-em-ciencias-leitura-e-matematica.ghtml

O movimento estudantil organizado, é só teoria, a reunião prevista para começar às 18h, iniciou-se às 19h, o sistema de som é sofrível, quase não se ouvem os discursadores, muitos fazem pequenos grupos e conversam entre si, outros mantém-se conectados à internet. 

O sistema político que criticam é reproduzido nos mínimos detalhes, até nas verbalizações enfadonhas (destituídas de conteúdo ou informações relevantes) e repetitivas, logo, desnecessárias, as quais postergam o clímax, que seria votação da pauta: continuar ou encerrar a greve deles.

De uma forma geral, parece que se está em Babel, querem decidir algo, impedir as votações da Proposta de emenda Constitucional (PEC) 241/55, a qual muito poucos leram, mesmo os alunos da Ciências Sociais Aplicadas (leia-se neste caso: Administração e Economia), mas aqui cabe o benefício da dúvida: a minha interpretação das leituras e dos entendimentos dos falantes a respeito do tema; afinal, em avaliação de interpretação, nem todos os componentes de grupo algum conseguem grau máximo em um certame de seleção, independe de qual seja, seria então natural a nossa pouca capacidade ou  incapacidade de interpretação de textos?

Penso que não, contudo, as nossas capacidades são deveras variáveis, com tendência para baixo, haja vista o alto índice de analfabetismo funcional brasileiro, 8% dos brasileiros acima de 15 anos. Ver http://direcionalescolas.com.br/2015/03/03/analfabetismo-funcional-uma-realidade-brasileira/

Uma universidade com mais de 50 mil alunos ( https://pt.wikipedia.org/wiki/Universidade_Federal_do_Paraná ), outra fonte diz 23 mil alunos (https://www.timeshighereducation.com/world-university-rankings/federal-university-parana-ufpr#ranking-dataset/589595), contudo, cerca de pouquíssimas centenas, três – após uma hora de reunião verborréica o número era menor – , decidem o destino do alunado, e é de se pensar que tipo de cidadão e profissional essa academia está entregando à sociedade em contrapartida aos 1,2 bilhões, conforme o penúltimo link. 

Não é de estranhar o comportamento político hodierno, tendo como reflexão as palavras de Platão, de há inúmeros séculos: “Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles gostam.”

A universidade é a responsável por esse pífio comparecimento a uma reunião de capital importância – se continua ou aborta a greve estudantil – , porquanto seus alunos não estão sendo conscientizados da participação social em todas as instâncias possíveis. Se é que pauta de tal monta deveria estar na seara discente?! Se um lugar de valor não é ocupado por quem de direito, invasores fá-lo-ão.

Greve estudantil? Parece que a nossa sociedade está suportada em um vértice piramidal, e a sua base orando aos céus para que esses deem-lhe solução para os seus mais comezinhos assuntos.

Aluno, a meu ver, aluno não tem que decidir se aceita aula ou não, contudo, pode decidir sobre a sua matrícula ou não, a assistência à aula ou não, mas decidir se para ou movimenta uma universidade com tais dezenas de milhares de alunos é dar voz a balbuciadores.

O que será que os financiadores da maioria desses alunos pensam disso? Muitos pais estão distantes, outros tantos fazem-no com dificuldades. Sendo que em alguns casos, o governo federal, ou seja, a própria sociedade, é o financiador, embora que seja parcialmente.


No entanto, a grita pelo aumento do número de bolsas e dos seus valores não é um assunto escasso no aparelho fonador de muitos universitários.

Falas pró-greve

Pouquíssimos alunos – proporcionalmente ao número total da universidade – falam por seus departamentos e bradam que não abandonarão a greve;

Em réplica a que o movimento estudantil é financiado por partidos políticos, alguém disse que não o é, e por nada ter recebido até aquele momento, quer receber sua remuneração de maneira retroativa;

A greve dos alunos deve continuar até a PEC ser abolida. [O interessante é que alguns parecem acreditar nisso, e se continuarem poderão acabar com a própria universidade, porquanto se a PEC for suprimida não o será devido ao movimento discente grevista.];

Temos que continuar com o movimento, alguém na plateia sugere, em voz audível somente aos poucos circunstantes, que eles têm que quebrar bancos;

Os professores têm que apoiar nosso movimento. [É verdade, estão apoiando-os, não há aulas, bem como os técnicos, visto que estão pardos há mais tempos, embora que parcialmente.];


Vamos à luta! [É um grito de guerra, repetido com alguma frequência nas finalizações das exposições individuais.];

Precisamos resistir, manter o movimento. Ele está muito mais forte agora;

A greve precisa, ela tem que continuar. [Só falta a segunda votação no Senado. Qual seria a sua razão da greve?];

Mesmo que a PEC seja aprovada o nosso movimento não enfraquecerá. [Se o movimento é contra a PEC, e for aprovada em todas instâncias, qual seria o sentido de manter a greve? Seria uma greve pelo fato de dizer que estarão resistindo aos seus ditames?];

Devemos manter o movimento até a votação em segundo turno no Senado, dia 13 de dezembro;

Havemos de ter como exemplo de resistência os estudantes secundaristas, de como lutar contra algo. [Houve até assassinato entre eles, dois adolescentes drogaram-se e tiveram os ânimos exacerbados. o que acarretou a morte de um.];

Dizem haver espaço para as ideias contrárias. [Não é verdade, os contras são imediatamente alcunhados de fascistas, adjetivo dentre os mais utilizados para os oposicionistas à manutenção da greve.];

Negam que chamem a PEC 241/55 de a PEC da vida (“Não posso aceitar que a defendam como a PEC da vida.”), mas a chamam de a PEC da morte, a que destruirá o futuro de toda uma geração de jovens, de toda uma nação. Ela é o começo do fim. [Se estão certos ou não, não se sabe, mas se vê um discurso corporativista, egocêntrico. O fim referido deve ser a intensificação do desmantelamento da economia nacional.];

Lutar para manter o ensino de qualidade. [Qualidade é uma propriedade que se reconhece por comparação. As universidades públicas são de qualidade com referência a quê? às universidades privadas? Se for, tudo bem, caso não, é de bom alvitre consultar algum dos mais renomados rankings universitários internacionais. No The Time Higher Education – THE – 2016/2017, a UFPR é a 601a. universidade do mundo; a Universidade de São Paulo (USP) é a 251a. sendo a brasileira mais bem classificada. Onde está a qualidade? Ver:

Quem defende a PEC é egoísta. [Parece-me que o altruísmo, como característica geral, não pertence ao ser humano, vemo-lo como uma manifestação individual; cada ser defende os próprios interesses, isso sim, o egoísmo é uma característica humana generalizada.];

Alguns alunos foram ao congresso protestar contra a PEC. [Essa atitude é vista como algo de gente engajada no movimento, é vista com distinção.];

Deve-se unir todos os esforços da comunidade universitária, fins taxar as grandes fortunas e instaurar uma auditoria na dívida pública. [Parecem-me coerentes as duas proposições, é possível que o atual governo desconheça a real situação do endividamento público, a situação da previdência e outros possíveis sumidouros do erário.


Por que não cobrar os devedores de tributos, essas somas chegam a alguns bilhões de reais, e por que não rever as enormes e extensas desonerações fiscais?]

Quem tem o suporte de algum partido político não tem cacife para ser contra ou a favor da PEC. [Muitos falantes representam abertamente e outros parecem representar alguma facção política.];

O grupo contrário ao nosso movimento é suportado pelo PSDB. [Existe um grupo opositor, o qual é bem pequeno, talvez sequer atinja meia dúzia.];

Toda decisão é política! [Ao interessar-se por uma moçoila, lembre-se: isso pode ser também uma decisão política.];

Por que a PEC é para 20 anos, e não por 3 ou 4 anos? [Só por que alguém quer, se assim for, será preciso criar uma pra cada grupo simpatizante de tal número. Planejamento, faz-se por vários períodos, se longo ou não, pode-se fazer reajustes periódicos, ele não deve ser estanque.] 
 
Havia algumas alocuções propagandistas de uma ou outra intenção eleitoral ao Diretório Central dos Estudante (DCE). Alguém discordou que fosse o instante para tais proposituras;

O Diretório Central dos Estudante (DCE) não presta atenção ao Centro Tecnológico. [Perguntei algumas vezes a estudantes qual seria a finalidade dos centros acadêmicos e do diretório central, disseram-me que era para representar os estudantes. Por ocasião de campanhas para o diretório central pedi que eliminasse a batuca noturna no Campus Reitoria. Fi-lo por várias campanhas, o batuque continua a atrapalhar os alunos noturnos.

Musica é arte, mas é impossível estudar com batucadas. Nem a Ouvidoria da UFPR, nem a Direção Setorial – alguma gestão passada, resolveu o assunto, visto que o batuque continua. Para que eles servem até hoje? Não sei, as únicas criações conhecidas por mim são o José Dirce, 1968, e o Lindebergh Farias, 1992. Se é que eles serviram/servem para algo de útil.];

Um país que tem a própria moeda não vai à bancarrota, ele só precisa imprimir mais dinheiro. [Esse é um dos melhores atos para convidar a inflação a habitar a economia de um país e conseguir o descrédito econômico internacional, segundo alguns economistas. Se o ouvisse de um aluno das áreas biológicas ou exatas não me entristeceria, entretanto, ouvi-lo de um aluno de economia é estarrecedor.];

Os investidores internacionais querem apenas ganhar dinheiro no Brasil. [Isso chama-se capitalismo, é o mesmo que os empresários/investidores brasileiros intencionam quando o fazem no exterior.];

Tem-se que não permitir que os professores lecionem durante o nosso movimento/tem-se que convencer os professores a não lecionar durante o nosso movimento. [É fato que os professores trabalham para os alunos/sociedade, no entanto, impedi-los de lecionar é transgredir a hierarquia professor/aluno.];

Um país não deve ser gerido como se faz com uma empresa. [É por isso que temos tão diversos, arraigados e aparentemente insolúveis problemas; mesmo visando ao social, se o tivéssemos feito como tal poderíamos não estar vivenciando estas celeumas socioeconômicas.];

A PEC cortará as bolsas de estudo.

* Todos adesistas são ovacionados intensamente, independe do que tenha falado. Os pensamentos/discursos são quase que homogeneamente de apoio, ou seja, a grandiosíssima maioria dos presentes é daqueles que querem a continuidade da greve.



Falas contra-greve

O movimento estudantil é financiado por partidos políticos;

Chamam a PEC 241/55 de a PEC da vida, do desenvolvimento econômico, que recuperará a confiança internacional e proporcionará a volta dos investimentos financeiros, que ela realizará os anseios do povo: emprego e bem-estar social [Se estão certos ou não, também não se sabe, todavia, parece-me um discurso mais amplo no que tange aos possíveis resultados da PEC.];
Não há mais razão para manter o movimento grevista, visto que as votações da PEC evoluem, nada se pode fazer. [Uma das poucas lúcidas vozes, o movimento do alunado sequer atrai a atenção parlamentar.];

Todos os contrários são apupados ferozmente. Negam a real acepção do termo universidade, quando referente à instituição educacional, a qual, penso, deve contemplar a diversidade – a universidade – dos pensamentos e das ideias dos mais variados externadores.

E, assim, menos de 1% do alunado da UFPR decidiu pelos outros 99%, que não compareceram à assembleia. Alguém que não foi não pode reclamar da decisão, é semelhante ao nosso sistema político, se escolher mal não tem direito de reclamar, de forma arrazoada, só a reclamação pela reclamação.

                                                                                                                           06/12/2016