segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

NA MESMA MOEDA

Gustavo, um rapaz de 22 anos, estudioso, trabalhador e com os  olhos voltados para a promissão de seu futuro, tinha um Celta 1.0, cor prata, customizado às últimas instâncias.
Certo domingo de verão parou seu carro num dos inúmeros parques de sua cidade, com o intuito de supervisionar as beldades de sua faixa etária que praticavam alguma atividade desportiva ou lazer.
Após cerca de uma hora resolveu ir-se embora e, ao se aproximar de seu bem cuidado carro, viu um homem maduro, alto e forte com o pé no capô do celta, amarrando o sapato. Ele ficou irado, todavia, controlou-se - visto que uma confusão poderia ser-lhe constrangedora em inúmeros sentidos, bem como tal comportamento não era de seu feitio - e observou de longe.
O homem entrou no carro ao lado, pegou um jornal e dirigiu-se ao parque.
Gustavo aproximou-se de seu carro e fez uma acurada inspeção - a qual não precisaria de tantas minúcias – e observou que o sapato do deseducado tinha um prego que aranhou bastante a pintura do capô.
Gustavo transformou-se numa fera, a primeira ideia que lhe veio foi pegar a chave de rodas e destruir o carro do vândalo inconsciente, entretanto recobrou um pouco de serenidade e concluiu que todos quantos estivessem próximos testemunhariam a sua vingança.
Entrou em seu carro, ligou uma música clássica e acalmou-se completamente. Abriu a sua caixa de ferramenta  e pegou um parafuso longo,  de uns dez centímetros, e de bitola relativamente ampla.
Ele encostou-se na porta esquerda do carro preto, novo e de alto valor e - enquanto acompanhava a música - fazia uma ritmização com o parafuso atrás de suas costas na pintura do adversário.
Após os dez minutos restantes daquela sinfonia ele sentiu-se inteiramente relaxado  e foi-se embora.
Quando o dono do carro preto percebeu o que houvera  com a sua porta realizou um escândalo, lançou ao desconhecido retribuinte os maiores impropérios, os quais  podiam ser ouvido a dezenas de metros.
Após a calma impressa pelo tempo, teria o vândalo inconsciente lembrado-se do apoio que usou para os seus sapatos?

27/08/2010