quarta-feira, 31 de julho de 2013

"NÃO SE ESQUECER DE QUE TODOS PROBLEMAS SÃO SOLÚVEIS NO RITUAL DO CAFÉ"

Não entendeu a sentença.
A maioria das pessoas não distingue entre sentença, oração e frase, não na linguagem corrente, na acepção dos termos. Era uma oração afixada em um quiosque de café. Não a compreendia, não obstante saber todos os vocábulos utilizados; perguntou a atendente. Era uma frase do café, a respeito de café, era só isso, não havia qualquer outra explicação – razão – de ela estar ali. Algumas palavras ela nem havia visto ou escutado antes.

E rituais do café? Ela sequer tinha noções do que viria a ser ritual, quanto mais enquanto compondo a filosofia que defendia o estabelecimento em que trabalhava.

A sentença oracional aplicou-lhe outro tipo – a punitiva – não conseguia desvencilhar-se da ideia que lhe incutiu: o seu significado. Perguntou a uma outra pessoa, contudo o resultado foi a antítese do sucesso. Procurou aqui, acolá; porém, a oração, que longe de lhe trazer o apiedamento da oração de São Francisco por ignorar tal coisa, trouxe-lhe sofrimento de não compreender mais uma coisa, o significado da sentença, do quiosque, da dele; quiçá, da nossa sentença. 

Sabe-se que no Brasil o costume do café passado no coador de pano, de papel, ou na cafeteira – não importa, cada tipo de preparo ressalta algumas de suas diferentes características –, está em quase todos os cantos, redunda em reuniões familiar, amistosa, e também informais e formais de trabalho. Esse diletantismo pode elevar-se com grãos de boa procedência, e quiçá por um conjunto de louças que o torna mais sofisticado, palatável; como ainda pode ser acompanhado por múltiplas coisas, tais como uma torta, um pão ou um biscoito prediletos, ou até todos eles. 
 
O consumo moderado não representa perigo para as pessoas saudáveis, porém, as não devem consultar algum discípulo de Hipócrates antes de degustá-lo. Um momento como tal só pode ser ímpar – não no sentido de repetibilidade, ele pode e deve ser, mas na acepção de que nada, ou poucas atividades podem comparar-se a essa fração cronológica (independente do numerador dessa, contudo quanto maior, melhor).  
 
Tomar café faz parte da nossa tradição – é sempre um ritual.

Porventura seria esse o significado da sentença, com um viés corporativo ?
Se for, intencionar que a garçonete pudesse dar-lhe tal explicitação é um querer que está além dos requisitos dos seus encargos, não obstante o café tivesse a oração pregado.          27/07/2013

sábado, 20 de julho de 2013

O VALOR DAS ÁGUAS EXPELIDAS

Ela umedecia a cama quando criança, isso prolongou-se até os seus doze anos de idade. Envergonhava-se muito disso, ainda mais que sua família zombava-a bastante. Quando acontecia o fato, fazia de tudo para camuflá-lo, escondiam as roupas molhadas, lavava as quando encontrava-se sozinha em sua casa, porém nem todas as vezes conseguia êxito. 

Durante atividades quaisquer tinha que fazer interrupções para dar vazão ao líquido perturbador, ocorria inúmeras situações embaraçosas, tais como, na celebração do aniversário de um colega de sala de aula quando ingeriu refrigerantes em demasia, e durante o trajeto de volta à casa molhou-se dentro do ônibus. Coberta de tamanha vergonha, fez furinhos para os olhos num saquinho plástico para compras e vestiu-o, ao descer do ônibus correu mais do que pensava poder até a sua morada. 

Após esse acontecimento tornou-se reclusa, não se sociabilizando com quem quer que fosse. Certa vez, de novo em sala de aula, houve uma encenação cômica, e ela divertiu-se muito, estava completamente relaxada, porém quando levantou-se a água turva escorreu do assento ao chão; os colegas foram aos céus com mais motivo para grandes gargalhadas, agora acompanhadas de zombarias direcionadas à pobre adolescente.

Passados anos, e não ocorrendo mais a sua incapacidade para a contenção de líquido, tinha vida normal. Isso até o dia em que estava sob grandes ânimos com uma companhia. Desde há muito, recusava-se ao contato, sobretudo aos mais ardorosos, no entanto, nessa ocasião, em que estava sobre o corpo de seu flerte, ela se descontraiu sob os efeitos das carícias e os músculos uretrais não foram resistentes o bastante para que não molhasse as vestes de ambos e do sofá que se cumpliciava, mesmo sem dar consentimento.

A ambiência tornou se constrangedora, pegou seus pertences, saiu correndo sem balbuciar uma palavra sequer, nunca mais reviu a sua companhia, a despeito de intensas e prolongadas tentativas da abandonada. 

Após esse evento tornou-se deveras antissocial; aos 22 anos de idade era virginal e pudica, não saía nem com os colegas de trabalho; quando a incontinência aquosa reapareceu. Ele era magra o bastante para que o seu físico não despertasse o interesse de outrem, não obstante a face harmoniosa e bela.

Por sua incapacidade de controle, houve por bem usar fraldas jovens – estava longe da terceira idade para utilizá-las com outro adjetivo – e teve que recompor grande parte de seu vestuário. Aquela moça esquálida tornou-se um mulherão com quadris para mais de metro; quando a ala masculina acordou para aquela bonita face e curvilíneas e largas partes inferiores.

O assédio tornou-se de tal monta que atingiu o seu humor, considerava os homens com os mais vis atributos, visto que percebeu a razão da transformação dos que cruzavam a sua trajetória. Porém, aconteceu de apaixonar-se por um desses; antevendo o fiasco, abriu-lhe o verbo, o assombro afugentou-o.

O desinteressante é que até as coisas pensadas desimportantes não são tanto quanto se espera; conhecer até a nossas secreções e excreções tem valia para o convívio social, sobretudo o contemporâneo que prima pela habitação e aglomeração urbanas.                                        12/07/2013