terça-feira, 27 de março de 2012

Cada povo tem o que merece

Diz-se que todas as regras têm exceções; inclusive essa, visto que a regra de acentuação das palavras proparoxítonas excetua-se ao ditame. Parafraseando a assertiva, quero ater-me a esta: toda – talvez, nem toda – generalização incorre em erros ou injustiças. Para ilustrá-la: “cada povo tem isso ou aquilo que merece”. Não importa o que seja, sempre há um completador de plantão ávido por fazê-lo. Penso que é uma frase um tanto tola, de quem não tem a criatividade suficiente para substituí-la por uma de própria construção, por isso, critico-a. Se todos recebessem somente o merecido, Cristo não teria sido crucificado, seres humanos não nasceriam defeituosos, nem morreriam de fome – ser nenhum merece morrer de fome ou por qualquer outra carência material -, homens honestos não seriam ludibriados, ou assassinados, nem mulheres estupradas – nenhuma o merece; bem como todos os larápios (independente de sua formação sociointelectual) seriam conduzidos ao rigor das punições legais. Portanto, esse provérbio popular é uma toleimice. O povo brasileiro não tem os políticos que merece – pois ele não os merece, mas os quer. O povo brasileiro não tem o nível de educação social que merece, porém tem a que construiu ao longo dos seus cinco séculos e poucos anos. Bem como não tem a cultura erudita ou popular que merece, contudo, a que construiu e está a construir. Visto que, se o dizer estiver correto, poder-se-ia afirmar que os povos desenvolvidos mereceram uma economia abastada, todavia, já não a merecem mais? E na mesma linha de exemplos podem-se acrescentar diversos outros. Donde pode-se ressaltar que nem sempre a sabedoria ou quantas outras virtudes estão na mente do povo – de inicio – e, depois nos lábios dele. Pensamentos rasos originam construções frasais superficiais, e cá estão novamente a educação e a cultura de um povo. Quiçá possamos substituir o substativo por outro: espécie. 25/7/11.