sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

O HOMEM-INSETO

     A imagem (*) ilustra o  cartaz  da oferta de uma disciplina de literatura, em uma universidade,  na qual será focado o papel dos animais, quer seja em relação com o homem, quer seja isolado.
     É uma imagem que me atraiu a atenção por demais, pensei várias vezes quando por ela passei.
     Assim, resolvi fotografá-la e perguntar (“Comente essa imagem. Gostaria de saber o que ela traz a você?”) a algumas pessoas – via WhatsApp – o que lhes causava.
     As respostas foram as mais díspares e curtas possíveis, algumas poucas pessoas escreveram um pouco mais, houve até quem tentasse poetizar, filosofar ou dessacralizar o não sagrado.

A1: Achei o homem-inseto muito estranho. 
A2: É uma sensação de nojo, é algo que me incomoda ser atacada por insetos. Mas, ao mesmo tempo, a pessoa parece tranquila. É muito estranho.
C1: O besouro no pescoço parece- me com a escuta, mas uma escuta que gruda e que fala diretamente ao ouvido, sem dar espaço, como uma informação particular ou sigilosa ou com um tônus pegajoso.
     A barata no pescoço está sufocando-o, e se alonga para o peito, indicando afetar o sentimento.
     A borboleta, no lado esquerdo, denota o olhar positivo e colorido.
C2: Vincent van Gogh que cortou a própria orelha...
D1: Imagem do rosto de um homem, uma barata como gravata, um pássaro preto com um besouro no bico formando cabelo e olhos.
     Imagem confusa. O que quer dizer?
E1: Legal. Lembra-me o filme “Laranja mecânica” , depois pensei num artista que agora não me lembro do nome e, por fim, lembrei-me do Franz Kafka, “Metamorfose”.
     Parece existir um ciclo entre as espécies. Não conheço o artista, mas poderia expressar os seus sentimentos nos contornos da imagem.
E2: Nice.
I1: A transmutação humana, conforme às circunstâncias, por exemplo, a venalidade que nos torna desumanos, piores que muitos seres inferiores na escala de desenvolvimento. O desconhecimento de si, os nossos vícios.
J1: Muito louca a imagem. Não gosto de insetos, para dizer a verdade.
K1: Interessante essa obra de arte! Somos muitos em um só, representado pelos animais e insetos; muitas vezes, somos enigmáticos.
K2: Achei interessante. Um rosto feito de animais. E ao mesmo tempo, um devorando o outro, pelo menos, é o que me parece.
M1: É um lobisomem horroroso, assustador, que se esconde atrás de uma máscara.
M2: Criatividade.
M3: São vários bichos.
M4: Ui! Isso na figura, são baratas? pavorosas!
M5: É um enigma… um pássaro com um besouro no bico!
N1: Vejo várias figuras de pássaros, insetos. Aliás, o rosto, mais precisamente, os olhos me trazem a imagem de um pássaro, tentando comer um inseto.
     Na gravata, também um inseto, vejo projetada uma barata, incrível como foi feita. Os cabelos são as asas do pássaro.
N2: Os bichos confundem o homem, mas não têm consciência de que são bichos. O ser humano tem consciência que é ser humano.
     O que lhe traz?
Q1: Somos partes de um todo. Somos partes de  um mosaico, chamado vida.
R1: Sorry. Não sou boa nisso. Fale você!
R2: Traz-me um certo desconforto. Não imagino quem seria o autor … remete-me à morte, à sujeira, ... Enfim , não gostei. É muito louca!
R3: Muita louca essa imagem. Demonstra substituição de partes humanas por insetos… que de uma forma estranha e, ,ao mesmo tempo, lúdica substitui o olho… uma perna dos óculos e as penas pretas trazem uma imponência aos cabelos… que podem ser de um homem careca!
     A gravata, como um acessório imposto por um besouro, busca caminho para o “alto”, como uma forma de imposição e busca de poder...
S1: Um pouco de desconforto por estarem no rosto...
S2: Achei bem criativa. Eu penso que o autor usou as aves e os insetos regionais. Ficou lindo. 
     Pode dizer quem é o autor?
S3: Hum...pássaros, insetos… animais compondo um outro animal (homem), todos animais? ou será que cada animal ligado a uma parte do corpo humano tem um significado? Cada artista compõe conforme a sua imaginação. Hum....faz sentido, e quem faz a leitura fá-lo-á a sua maneira. Aposto que ninguém lê igual. Para mim, é isso.
     Traz algo ligado à natureza, de que todos somos animais. Acho que temos que ter olhos de águia? ouvir como besouro? olhar como as borboletas? a gravata seria o comportamento social, como se relacionar com os outros?
     Vícios, quem não os tem? é fácil ver os dos outros, não os nossos. Se fôssemos perfeitos, não estaríamos aqui.
     E se não nos adaptarmos às circunstâncias? somos excluídos do convívio social. Desde que não prejudique ninguém...
     Às vezes, uma pessoa vê um fato como banal, sem sentido para ela; sendo que para outra, esse mesmo fato é carregado de significado, de uma beleza, que se pode dizer divina. Tudo depende do que cada um carrega dentro de si.
     Aprendi que não dá para julgar nada e nem ninguém!
S4: Ele é homem, mas a cabeça e os pensamentos dele são iguais a um inseto.
V1: Logo ela irá para a panela.
Y1: Em primeiro lugar, apreciei a criatividade, depois a perfeição da composição e os traços delicados e precisos do artista.
     Partindo para o ponto real, ela primeiro trouxe-me um arrepio, vendo besouros entrando e saindo da cabeça de um ser humano.
     Indo para um ponto mais surreal e emocional, a sensação é de que todos nós – os seres vivos – fazemos parte de um todo .
     E dependendo do momento, dá para buscar mais e melhores sensações. Quem é o artista?
(*) Obra: Franz Kafka, artista: Michael Mathias Prechtl,1926-2003, Alemanha.


                                                                               10/02/2017