Caminho por um
parque, no qual há quase tudo que se imagina haver em um, o
lusco-fusco invade-o.
Quando de chofre
vislumbro um ser bem menos lusco-fusqueante, sua fulgurância era tamanha que seria percebida
mesmo que à luz das noites não-satelizadas..
Sentada em um banco
para um trio ou um quarteto convidava no silêncio quem a pudesse
acompanhar em múltiplos sentidos.
Pensei: a minha
matemática é evoluída em comparação à sua, incipiente; o meu
mapa está deveras riscado, por tantas trajetórias, o seu, apenas
os viçosos relevos; as minhas cobertas são raras, as suas,
negrejantes, espaçosas e límpidas.
Cruzo, admiro, inspiro-me, respiro, suspiro, expiro e reflito.
Retorno, tergiverso, enfim, pergunto: — Desculpe-me a ousadia,
permitir-me-ia lançar mão das ideias lumierianas e transcrever a
beleza múltipla deste cenário? Este crepúsculo, o seu veículo
dobrerrodas que a ladeia e a protege, as suas vestes combinantes e
realçantes como Le rouge et le noir, de Stendhal, o seu longo
calçante que perpassa a dobra dos membros andantes; porém, com o
realce da perscrutação da obra de outro francês, Albert Camus. E,
se ainda não bastasse, as folhas de Platanus Acerifolia
esvoaçando ao derredor.
Ela concede-mo sem
consternação, confessa-me que amiúde o faz sem a permissão de
outrem.
Simula a volta ao
devaneio com a celulose e as tintas, porventura, oferece a
naturalidade que tem apresentado. Tomo a melhor posição, aguardo a
ausência dos disturbios, pronto, pressiono o obturador do meu
ultrapassado smartphone.
Reaproximo-me,
mostro-lhe, sorri-me com a graça que, à lonjura, se me apontara.
Inquiro-lhe o nome,
diz-mo; um bonito para uma além da lindeza.
Há os os que dizem
que natureza é perfeita, o que dubitável, contudo, às vezes, ela
exagera na perfeição, e têm-se as aquinhoadas de tudo. A minha
musa é um desses espécimens.
Agradeço-lhe,
afasto-me. Um mancebo ao meu lado vocaliza algo incompreensível,
pergunto-lhe, nega-se a desfraldar o enigma. Reinsisnto, ele acede,
diz que um dia foi bom naquilo. Não entendo, pergunto mais, ele
insinua que eu paquerava a musa, neguei, o que era fato. Disse-lhe
que lhe pedira para eternizar aquela beleza museana com o auxílio
dos pixels. Ficou embasbacado e incrédulo pelo vira ou pensou que
vira.
Sorriu sem cor, seu
companheiro chamou-o, despediu-se e seguiu seu caminho.
Foi-se sem a imagem
que tive, todavia, eu a tenho duplamente.
14/04/2015
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