— Tem algum restaurante que você recomenda por aqui?
— No Shopping Água Verde!
— Onde é?
— No Shopping Água Verde!
— Eu não sei onde é o Shopping Água Verde!
— Você vira à esquerda na próxima rua e vai encontrá-lo.
— Obrigado!
Viro à esquerda na próxima rua, e no meio da quarteirão pergunto à outra pessoa:
— O Shopping Água Verde é para cá? apontando a direção para a qual caminhava.
— Não, é no sentido contrário.
Pode ser que essa pessoa não soubesse distinguir direita e esquerda, porém, descartando a hipótese, pergunto: Porque é que muitas pessoas ( a maioria) acha — escrevo acha porque nem pensar sabe, ou acha que sabe — que todos sabem tudo que ela sabe?
As pessoas se perguntam se sabem tudo o que todos os outros sabem? Se a resposta fosse afirmativa e verdadeira só teríamos gênios e semi-deuses neste neste planeta. É justo nesse ponto que contesto que todo ser humano seja racional. Tal assertiva é por demais controversa; penso que a minoria de nós o é na total acepção da sentença.
Seria ótimo que eu fosse racional, que soubesse tudo o que os outros sabem, o processo constituir-se-ia uma progressão geométrica até o ponto em que deteria o conhecimento universal. Saberia tudo, inclusive quais as mulheres que me consideram — se é que existe alguma — atraente e/ou irrestível. Tomaria todas as decisões de forma acertada, não precisaria de conselhos e ensinamentos de quaisquer outrem.
Penso que só não conheceria o futuro, porquanto, ninguém o conhece; porém, como portador do conhecimento infinito teria aparatos suficientes para prevê-lo, o que já ajudar-me-ia deveras. No entanto, haveria um inconveniente, todos os outros saberiam o que eu sei. Não que tenha um segredo macabro, só que não gostaria que os outros conhecessem o âmago do meu, sou egoísta, ele só pertence a mim.
Naquelas poucas horas em que me destaco por algum parco conhecimento obtido ao longo de minha existência, por ventura, com bastante esforço, não teria os raros e pequenos deleites. Outro empecilho, as mulheres que considero atraentes, charmosas e coisas tais saberiam disso, e como é que eu ficaria como portador de enorme pudicícia? Só se eu tivesse conhecimento também para suplantar mais essa inépcia.
Se todos soubéssemos tudo, todos teríamos as mesmas capacidades e, nesse aspecto, todos seríamos iguais. Agora, já hesito se seria mesmo tão espetacular, nada haveria que nos impulsionasse, visto que nada não precisaria de esforço, inclusive para viver bem, viver muito — talvez para sempre — com todo conforto e galhardia. Todos poderiam ser e ter tudo, quando, então, o tudo não seria o bastante para ser de todos e significar o tudo em conhecimento. Quem dedicar-se-ia ao que pouco, ou quase nada, vale?
Assim, sugiro que ao sermos perguntado, trabalhemos o próprio ser — pelos menos, de forma superficial — para entendermos que não sabemos tudo o que os outros sabem e vice-versa. Perguntemos se os outros conhecem determinado fato, se entenderam o que lhes explicamos.
Após algumas décadas, só não encontrei um endereço dentre os inúmeros que procurei, talvez por não saber francês e falar um rudimentar inglês. Tais achados não se devem a mim, de maneira exclusiva, a maior parte deve ser atribuída a muitos, os quais deram-me as informaçãoes condizentes às procuras.
Em muitos casos a pergunta é mais importante do que a resposta, não só porque é a origem dessa, mas porque as perguntas inteligentes conduzem respostas/resultados pertinentes que podem mudar o curso da história.
A pergunta é mais importante do que a resposta por ser a força-matriz de um processo qualquer, sem ela nada ou quase nada tem-se.
O diálogo inicial poderia ser reescrito da seguinte forma:
— Tem algum restaurante você que recomenda por aqui?
— Sim, no Shopping Água Verde. Você sabe onde é?
— Não, poderia explicar-me?
— Você sai do prédio e vira naquela direção (apontando com a mão). Depois vira à esquerda (apontando com a mão, para que o interlocutor perceba a coerência ou não da fala com o gesto. Então, você vai encontrá-lo no meio do quarteirão. Você entendeu?
— Sim! Obrigado! Tchau!
— Por nada. Tchau!
Devemos e podemos lembrar que ao efetuar um questionamento queremos uma resposta satisfatória àquela; a menos que ela seja uma das ferramentas da oratória. Todavia, nesse caso, a intenção está desatrelada das verdadeiras perguntas e respostas. 25/02/2014
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