Quando leio uma reportagem, e os comentários são liberados, gosto de lê-los para saber o que algumas pessoas pensam sobre o asunto, como se comunicam, ver os níveis de pensamento, de expressão e de respeito para com outrem, o quanto se importam com os seus derredores. É possível ter uma vaga ideia do nível de cidadania desse grupo de brasileiros.
Muitas
vezes, a grande maioria dos comentários causa um desencanto com o
povo brasileiro,
se é que um pequeno grupo representa estatisticamente a populaçao:
se as pessoas que leem pensam e se comunicam de forma estapafúrdia,
o que esperar dos que não leem —
indepenente da razão de não fazê-lo. Isso também não significa
que os leitores sejam melhores cidadãos que os não-leitores.
Quando
o assunto é política, a certeza são os impropérios e as
tentativas de triturar o outro. Raros são os comentários
simpáticos, centrados e inteligentes (talvez esses evitem entrar em
brigas). Para resumir os comentários em uma palavra: deprimentes.
Se
essa empreitada de nada adianta, qual é vantagem de se ler os
comentários de um artigo? Serve apenas para ter uma leve presunção
do quanto somos bons ou ruins brasileiros.
No
entanto, ao ler o convite da Folha de São Paulo: "Como
livrarias impactaram a sua vida, leitor? Deixe seu relato",
fiquei consternado com a outra versão —
outro nível —
de comentadores. Quase todos, talvez seja por um momento de comoção
própria devido ao fato anunciado, conseguiram mostrar-me que possuem
uma parte boa, e se não são todos que a têm, deveriam procurar
desenvolvê-la e continuar a cultivar. Contam as suas relações com
a literatura, os seus aprendizados e ensinamentos por meio dos
livros. Não há interferência na escrita dos testemunhos, apenas
não escrevi os seus nomes, visto que alguém pode desgostar.
Percebi
que temos muitos brasileiros interessados na cultura, que se
preocupam com algum segmento da nossa sociedade e anseiam por
melhorias para esta nação.
Muitos sentiram empatia pela
falência da empresa, mesmo tendo em vista que uma parcela
populacional execra os empresários, responsabilizam-nos por grande
parte das mazelas nacionais, em geral. Alguém disse que os
empresários só “ganham dinheiro porque os trabalhadores dele
trabalharam” [sic]. Mas claro, quando o trabalhador abrir uma
empresa e tiver lucro (ao contrário do que vinha ocorrendo com a
Livraria Cultura), ele ganhará dinheiro e não mais será um
trabalhador, não obstante terá que continuar trabalhando sob a
alcunha de empresário. Simples assim, na teoria.
Todas
as empresas que fecham entristecem-me, mas as livrarias, bem mais.
Leia
os comentários, os mais belos em essência de todos os que li, até
então!
Como
livrarias impactaram a sua vida, leitor? Deixe seu relato
https://www1.folha.uol.com.br/paineldoleitor/2023/02/como-livrarias-impactaram-a-sua-vida-leitor-deixe-seu-relato.shtml
12/02/2023
Reportagem
sobre a falência da Livraria Cultura:
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2023/02/livraria-cultura-tem-falencia-decretada-pela-justica.shtml
Os
comentários não representam a opinião do jornal; a
responsabilidade é do autor da mensagem.
LM:
Sem exagero, para mim, as livrarias são como templos do saber.
Folhear um livro, ler alguns trechos, indagar o autor que sempre está
presente na obra. Além disso, essas livrarias são mais que um lugar
de vender livros. Elas oferecem um espaço de lazer com café, ou
seja, um ambiente ideal para a socialização. Um pena a
Livraria Cultura deixar de existir. Tenho uma ótima lembrança da
Livraria Cultura da Avenida Paulista. Ali, eu adquiri obras como
Simpatia pelo Demônio e Esaú e Jacó.
EB:
Acabaram as carruagens. Não se usa mais chapeu e terno aos
domingos.A internet veio com os livros digitais. Elon Musk e o seu
chat inteligente.
MSMB:
Cresci amando os livros e as livrarias. Não só a Cultura,
mas também muitas outras. Para mim, o prazer de pegar um livro na
estante de uma livraria, folhear, ler alguns trechos, sentir o papel
novinho, o cheiro dos livros, o visual das estantes, esse prazer
nunca vou encontrar na compra de livros online. Passei horas em
livrarias, e é com tristeza que vejo quase todas fecharem as suas
portas. Entendo que devemos andar junto com a evolução, em todos os
sentidos. Mas isso não impede a nostalgia.
MG:
Quer saber, quando a Gradus Primus fechou suas portas ninguém
lamentou. Salve Piazza, salve Toninho. E por muito tempo ela
funcionou na Alameda Santos, perto da Cultura, ao lado do Massimus. É
isso.
MG:
Livros e livrarias foram e ainda são uma das minhas atividades
preferidas, cresci em uma casa onde havia apenas uma pequena
enciclopédia que meu pai comprou à prestações, assim eu
lia tudo que caía nas minhas mãos, de jornal velho à bulas de
remédio. Para mim livrarias são um refúgio seguro nesse
mundo cada vez mais acelerado e um réquiem para todas as
livrarias que fecharam.
CS:
Para mim, shopping sem livraria não tem sentido. Quando eu ia
na Paulista, passava na livraria Cultura. Era como visita a casa
dos pais. Sentimento de segurança e aconchego. Em Março
irei a passeio para Lisboa, Porto e Paris e já escolhi as minhas
livrarias... Em Porto, por exemplo, tem a livraria Lello que cobra 5
Euros para entrar e este valor é integralmente abatido na compra de
um livro. A livraria cultura era tão singular que poderia ter feito
algo igual... cobrando R$10,00 por exemplo...
RC:
Em Lisboa visite a brasileirissima Livraria da Travessa! :)
MG:
Calvin, embora tardia, sua sugestão é excelente, eu visitei a
Livraria Lello em 2018 e paguei os 5 euros para entrar, fiquei
deslumbrada com tudo, principalmente a escadaria, comprei um livro e
abateram os cinco euros do valor do livro. Eu nem me importaria se
não devolvessem o dinheiro da entrada.
DBL:
Falência da Livraria Cultura é uma derrota gigantesca de uma
metrópole como São Paulo. É a mais significativa derrota da
cultura, do conhecimento e da classe média paulistana. Marcou
minha juventude.
RA:
Impactante passar por São Paulo, ir ao center norte e não ver
procurar a cultura lá e não achar mais. Tipo abelhas que tiveram
suas colmeias destruídas. Sim faz tempo já que fecharam a loja
lá. Mais o passeio pelos corredores do shopping sempre me leva o
olhar para aquele espaço. Podem passear e fazer compras família.
Meu canto era lá dentro.
AMP:
Na Cultura, em Campinas, localizada no Shopping Iguatemi, que também
abrigava a Saraiva, os colaboradores perguntavam quando eu deixava de
fazer minha dobradinha, nas quintas-feiras. Assim, as quebra dessas
duas abalou-me profundamente. Alguns, frequentam igrejas, outros,
botecos. Eu frequento livrarias. E Cultura e Saraiva eram meu
segundo lar. Aqui, em Ribeirão, onde resido atualmente, ainda temos
a excelente Travessa, minha nova casa. Os amigos, quando querem me
ver, passam por lá.
AMP:
Marina e Jaime, obrigado pelos gentis comentários. Lendo as
postagens e comentários fiquei encantado em saber que há outras
pessoas que têm os mesmos hábitos. Ontem, mesmo, passei na
Travessa e comprei um box, da Rocco, em três densos volumes, com a
obra completa de Clarice Lispector (cartas, crônicas e ficção).
Comecei a ler logo que cheguei em casa. Fui dormir às cinco da
manhã. A noitada valeu a pena. Puro prazer!
JS:
Cultura, Saraiva, Travessa, SBS, Fnac... e as tantas bibliotecas
universitárias são meus templos desde pequenino. É bom ter
ciência de mais correligionários!
AMP:
Vivo em função dos livros. Minha casa é praticamente uma
biblioteca, com estantes de livros em todos os cômodos. Já
cataloguei mais de três mil livros, na medida da minha
disponibilidade de tempo. Como estou na metade, o acervo total deve
ser de seis mil livros. Naturalmente, era o frequentador assíduo da
Cultura (no Conjunto Nacional, em Campinas e Ribeirão Preto). Quando
morava em Moema, as funcionários da Saraiva, que eu frequentava
diariamente, chegaram a decorar meu CPF. Na Cultura, em Camp
SGT:
Moro em uma pequena cidade do interior de São Paulo. Sem trânsito,
pouca violência e com ainda alguns vestígios da Mata Atlantica.
Entretanto, teatros, cinemas e livrarias, simplesmente não existem
por aqui. A cidade de São Paulo, com toda a sua loucura, oferece
(como dizem os Titãs) diversão e arte. Por isso mesmo, quando ia a
" Pauliceia desvairada ", sempre arranjava um jeito de ir
na Cultura. Se a vida é feita de bons momentos, com certeza a
livraria Cultura proporcionou esses a mim.
AC:
O que esperar de um lugar onde só há botecos?
EF:
Ultimamente só vejo abrirem bares e hamburguerias na cidade. É tudo
o que a massa brasileira tem disposição e dinheiro pra consumir.
Que país triste.
AMM:
A primeira grande livraria que frequnetei foi Civilização
Brasileira, em Salvador. Que maravilha ir de estante em estante vendo
os livros antigos e os lançamentos. Fiquei triste pela Cultura e
espero que a Saraiva se recupere logo. São ambientes
indescritíveis que só os amantes dos livros podem entender e
sentir.
EVNC:
Antes mesmo de frequentar as livrarias, minhas memórias literárias
me levam de volta à Biblioteca Pública Municipal de Gov.
Valadares, anos 60, sob administração do Prof. Paulo Zappi.
Ao mesmo tempo que nos oferecia o que de melhor dispunha, era o
guardião zeloso daquelas obras proibidas que os adolescentes tanto
almejávamos folhear. Era uma luta de gato e rato. O Decameron era
campeão. Só os +18 anos tinham acesso.
MDDM:
Aos 14 anos, já frequentava a Livro-7, em Recife. Livraria à frente
do seu tempo, comercializava obras mas também permitia que lêssemos
lá, onde havia vários bancos circulares - para integrar os
leitores, além de chazinho (gratuito). Quando comecei a trabalhar,
aos 16, já leitora habitual, mensalmente comprava um livro e/ou
vinil lá. A Livro 7 fez parte da cultura de algumas gerações de
pernambucanos, tal como a Livraria Cultura de muitos brasileiros. Dói
saber da decretação de sua falência.
PC:
A Saraiva do Center Norte tinha um auditório, local em que
presenciei vários amigos lançando livros, e um setor de livros
infantis gigante. Enquanto isso jovens sentavam para conversar e
flertar. Videogames, dvds, ingressos em shows, livros e revistas,
além do café do Starbucks. Lembro-me uma funcionária que estava lá
há mais de vinte anos e de uma recepcionista do Starbucks que era
tatuadora e abriu um studio de tatuagem. Lembranças, enfim,
enterradas.
LCB:
Perfeito, o comentário anterior. O relacionamento com as
livrarias não pode ser apenas comercial, é algo afetivo. Entrar
num ambiente como o da Cultura é encantador, pode-se procurar por um
livro (ou DVD) específico ou flanar pelas estantes vendo as capas,
lendo as orelhas, vendo as ilustrações e selecionar alguns para
sentar num canto e ler alguns trechos. No final, devolver todos aos
seus lugares ou levar alguns para casa (passando pelo caixa,
naturalmente). É um programão que não pode faltar!
JG:
Livrarias, assim como marcas como Volkswagen, Nestlé e desenhos
animados dos studios Hanna Barbera fazem parte de minha memória
afetiva. Comprar um livro não é uma atividade meramente
comercial. Considero mais um ritual onde não só você
escolhe o livro mas o livro também escolhe você. Escolher um livro
é a arte do garimpo, exige tempo, paciência e determinação.
Triste notícia a falência da Cultura. Ponto para o analfabetismo
funcional.
CF:
Jorge, as pessoas não pararam de ler. Quem ama literatura vai
amar a vida inteira. As pessoas passaram a comprar livros e ler
em casa, no jardim, deitada numa rede...
CAAA: A vinda à SP, moro em
Natal, sempre tem um espaço para uma visita à Livraria Cultura. O
ambiente é acolhedor e inspirador. Fiz isso nessa última
quarta-feira. Entre a garimpagem de livros sobre a história da
medicina ainda tive a felicidade de fazer uma foto das escadas
internas. Vou guardá-la de recordação.
Oxalá
tivéssemos muito mais gente com esses pendores.
12/02/2023