Uma das minhas tristezas para com o ser humano
é a incapacidade da grande maioria de reconhecer as próprias
falhas, e quando as percebe não consegue eliminá-las.
Mas há luz no horizonte do homo
sapiens, sua capacidade criadora nos mais variados campos do
conhecimento surpreende-me. Quiçá um dia poderá abarcar-se e se
desenvolver.
No entanto, a socialização parece
decair em contraposição à ciência, e a companhia de outrem é
pensada como substituível por não-humanos, com preponderância a
alguns da família Canidae e Felidae. Em consequência, os prediletos
companheiros dos humanos são ultrajados de forma constante, têm a
sua natureza e seu habitat corrompidos, a alimentação carnívora
foi substituída por rações, ditas balanceadas, ou restos
alimentares humanos, os últimos causam anomalias nesses, como
cardiopatias, diabetes, obesidade e tártaro.
Os humanos que levam seus progenitores
anciãos às casas de repouso, ao esquecimento, à violência física
e psicossocial dão guarida aos novos companheiros. Os ditos mais
civilizados, ou temorosos da crítica social recolhem excrementos
animais – considero o máximo da decadência comportamental
comparada ao tratamento dado a outros humanos –, porém, negam-se a
lavar os seus familiares, a alimentá-los, ou trocar-lhes as fraldas
geriátricas. Isso quando não acresce da usurpação das
aposentadorias da melhor idade, dependem delas para sobreviver, não
das suas presenças ou da doação/recepção dos seus carinhos.
Na escala hierárquica do trabalho
urbano, considera-se a base os serviços gerais; contudo, se
refletirmos, o gari – que deveria ser muito bem renumerado e
reconhecido – tem importância muito acima de algumas atividades
prestimosas.
É comum encontrar os bichos passeando
pelos corredores dos shoppings, sujando os parques e ruas. Só falta
permitir-lhes que se sentem à mesa de seus amigos humanos desumanos.
Bichos são bonitos, coloridos,
interessantes, alguns são bons para brincar; contudo, bicho é
bicho, deveria ser tratado como tal, mas também não em zoológicos
e dentro de casa, em cima do sofá, em cima da cama, companheiro de
sono; mas por se tratar de propriedade privada/indivíduo torna-se
questão de fórum íntimo.
Quando se refere à esfera pública,
veem-se algumas excrecências, a cidade de São Paulo cogita a
permissão de caninos e felinos, de certo porte, nos meios de
transporte coletivo. Em Curitiba, o vereador Tiago Gevert (PSC)
cogita a possibilidade de se poder fazer o mesmo.
Será que algumas autoridades políticas,
daqui e dacolá, não poderiam o utilizar o tempo que o povo lhes
paga para pensar em algo proveitoso. O transporte público, que é de
excelente qualidade, terá que receber novos usuários, esses, bem
esdrúxulos.
Como se não bastasse todos esses
exemplos, determinada companhia aérea permitirá que se transporte
os bichos humanizados na cabine do avião. Vê-se que a concorrência
acirrada impele os fornecedores de serviços a ter iniciativa
diferenciada para o absurdo.
15/03/2015