sábado, 14 de março de 2015

EX-BICHO, NÃO-HUMANO HUMANIZADO

     
          Uma das minhas tristezas para com o ser humano é a incapacidade da grande maioria de reconhecer as próprias falhas, e quando as percebe não consegue eliminá-las.
 
           Mas há luz no horizonte do homo sapiens, sua capacidade criadora nos mais variados campos do conhecimento surpreende-me. Quiçá um dia poderá abarcar-se e se desenvolver.
 
           No entanto, a socialização parece decair em contraposição à ciência, e a companhia de outrem é pensada como substituível por não-humanos, com preponderância a alguns da família Canidae e Felidae. Em consequência, os prediletos companheiros dos humanos são ultrajados de forma constante, têm a sua natureza e seu habitat corrompidos, a alimentação carnívora foi substituída por rações, ditas balanceadas, ou restos alimentares humanos, os últimos causam anomalias nesses, como cardiopatias, diabetes, obesidade e tártaro.
 
           Os humanos que levam seus progenitores anciãos às casas de repouso, ao esquecimento, à violência física e psicossocial dão guarida aos novos companheiros. Os ditos mais civilizados, ou temorosos da crítica social recolhem excrementos animais – considero o máximo da decadência comportamental comparada ao tratamento dado a outros humanos –, porém, negam-se a lavar os seus familiares, a alimentá-los, ou trocar-lhes as fraldas geriátricas. Isso quando não acresce da usurpação das aposentadorias da melhor idade, dependem delas para sobreviver, não das suas presenças ou da doação/recepção dos seus carinhos.
 
           Na escala hierárquica do trabalho urbano, considera-se a base os serviços gerais; contudo, se refletirmos, o gari – que deveria ser muito bem renumerado e reconhecido – tem importância muito acima de algumas atividades prestimosas.
          É comum encontrar os bichos passeando pelos corredores dos shoppings, sujando os parques e ruas. Só falta permitir-lhes que se sentem à mesa de seus amigos humanos desumanos.
           
          Bichos são bonitos, coloridos, interessantes, alguns são bons para brincar; contudo, bicho é bicho, deveria ser tratado como tal, mas também não em zoológicos e dentro de casa, em cima do sofá, em cima da cama, companheiro de sono; mas por se tratar de propriedade privada/indivíduo torna-se questão de fórum íntimo.
 
          Quando se refere à esfera pública, veem-se algumas excrecências, a cidade de São Paulo cogita a permissão de caninos e felinos, de certo porte, nos meios de transporte coletivo. Em Curitiba, o vereador Tiago Gevert (PSC) cogita a possibilidade de se poder fazer o mesmo.
           Será que algumas autoridades políticas, daqui e dacolá, não poderiam o utilizar o tempo que o povo lhes paga para pensar em algo proveitoso. O transporte público, que é de excelente qualidade, terá que receber novos usuários, esses, bem esdrúxulos.
 
          Como se não bastasse todos esses exemplos, determinada companhia aérea permitirá que se transporte os bichos humanizados na cabine do avião. Vê-se que a concorrência acirrada impele os fornecedores de serviços a ter iniciativa diferenciada para o absurdo.                                    15/03/2015