sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O SILÊNCIO

Diz-se que o escuro é a ausência de luz, logo pode-se dizer que o silêncio é a inexistência de som? Depende! Pois há várias formas de silêncio, dentre elas podemos destacar: o silêncio propriamente dito, o silêncio relativo, o silêncio externo com barulho interior e o silêncio interno com balbúrdia externa.
O silêncio propriamente dito é a não ocorrência absoluta de qualquer intensidade de som. É uma condição teórica, a qual só deve acontecer em experiências laboratoriais. Deve haver silêncio absoluto em diversas outras circunstâncias, tais como em 7 palmos abaixo do nível do solo; numa área submarina livre de perigos; na infinitude do espaço; quiçá em outras galáxias. Mas só de hipotetizá-las o silêncio me some, embora elas sejam exemplos pertinentes ao meu devaneio sobre tal.
Entretanto, se a situação dos sete palmos não for a que deveria, esse exemplo passaria a ser a ilustração de uma tormenta interior e exterior, o que seria a fusão de outros dois tipos no que se refere as suas características indesejáveis. O silêncio com barulho interior e o silêncio interno com balbúrdia exterior. Livre-nos de tal horrenda hipótese. Já os demais exemplos são, de verdade, dignos de uma oportunidade para refletir o item em questão.
O silêncio relativo se faz na possibilidade de ouvir som a poucos decibéis. Está relacionado, comumente, a locais ou ocasiões especiais, como um campo - longe da industrialização - no qual se pode ouvir o cantar de um pássaro distante. Ou até mesmo a lugares produzidos com intuitos específicos, por exemplo, um local para meditação ou um estúdio de gravação sonora, que se torna hermético quando ativado. Este sim parece-me ser o tipo ideal para a maioria das situações almejadas. No qual seríamos os senhores de nós mesmos, do tempo e tudo mais que nos cerque. Adequaríamos tudo para o nosso bel-prazer, para realizar o nosso sonhado modus vivendi . Seria a concretização plena do ser e do viver.
O silêncio externo com barulho interior é, talvez, o pior dentre os tipos. É a harmonia externa e a des interior, ela ocorre na vivência de um grande problema para o abarcado, pois é isso mesmo, sentimo-nos bastante presos pelo fato de que não existe mais nada além dele. E, por mais que tentem nos ajudar, não adianta muito, já que só o tempo desvencilhará o detalhe interior imenso que subjugou todos os outros aspectos de nossa vida.
Ele é o desprezível dos rejeitados. Imagine a perda afetiva da amada, ou mesmo a morte dela. Não há aconselhamento, de quem quer que seja, que resolva de imediato ou amenize a mágoa inicial, que só o tempo- de novo- poderá curá-la. Ou ainda uma gestação não-planejada, como a da adolescente do Colégio Bom Jesus, de Curitiba-PR, que se suicidou devido, entre outros fatores complicadores de sua curta vida, a sua gravidez por um também adolescente; porque o barulho interior atordoou a mente dela.
Pode ser o inferno interior de quem é acometido por uma moléstia degenerativa. Se não tiver o apoio de que precisa o tumulto interior pode se agravar mais e mais. E que, ainda, poderá redundar num barulho interno com balbúrdia externa, dependendo da reação de cada um.
O silêncio interno com balbúrdia externa é, provavelmente, a situação mais difícil, já que a sua obtenção depende exclusivamente de muito desenvolvimento psíquico-espiritual de cada indivíduo. É a oportunidade em que o ser humano isola-se de todos - mesmo que cercado de muitos barulhos e pessoas - e dedica-se ao seu interior. Tal faculdade não é acessível a todos.
Este é a cara do nosso mundo no que se refere ao externo. São as mais diferentes demonstrações do caos externo, a violência, o barulho das pessoas, dos carros e das outras máquinas. Já que o que importa é o dinamismo - a produtividade- o qual tem quase sempre como subproduto a balbúrdia externa. E se o homem não estiver entre os aquinhoados com a capacidade de obtenção do silêncio interno, ele é, de fato, o homem contemporâneo, o que tem acesso à tecnologia e, também, é ingurgitado pelo nosso mundo e seus apêndices.
Embora se tenha dito que o silêncio relativo é o ideal para a existência humana, não se pode asseverar que o silêncio é mais importante que o não-silêncio, já que há situações em que se torna imprescindível a preponderância de um sobre o outro, quando não, a exclusividade. Mas como insinuamos no preâmbulo, um só existe na dependência do outro, isto é, o silêncio só existe se o não-silêncio se fizer inexistente e vice versa.
Portanto, ambos são importantes e dependentes das circunstâncias.



2403/1005-2009